“Jô, posso fazer uma correção? A gente não é catador de lixo, é catador de material reciclável. Lixo é aquilo que não tem aproveitamento, material reciclável sim.”
Assim começa a entrevista do Presidente da Associação de Catadores de Materiais recicláveis de Jardim Gramacho (ACAMJG), Sebastião Carlos dos Santos, o Tião, ao apresentador Jô Soares. Essa cena faz parte do documentário Lixo Extraordinário, que concorre ao Oscar na categoria de melhor documentário e traduz a importância social da figura do catador.
O documentário mostra o trabalho desenvolvido pelo artista plástico brasileiro Vik Muniz com os catadores de Jardim Gramacho, considerado o maior “aterro sanitário” da América Latina. A partir dos materiais coletados pelos catadores e tendo alguns deles como personagens, Muniz fez fotografias belíssimas, que renderam exposições com recordes de público. Um dos quadros, que reproduzia A Morte de Marat (1793), do francês Jacques-Louis David, foi vendido num leilão por aproximadamente R$100 mil. Todo o dinheiro arrecadado com a venda foi direcionado para associação.
No meio da montanha de lixo despejada pelos caminhões, personagens e histórias se misturam com os materiais que são o sustento de suas vidas. Diferente de outras produções que possuem o lixo como temática, o documentário evidencia a importância social do catador. É a partir do trabalho dessas pessoas que toneladas de materiais recicláveis são reintroduzidos no ciclo produtivo, economizando preciosos recursos naturais, além de contribuírem diretamente para aumento da vida útil dos aterros sanitários, que no caso do Jardim Gramacho, está com os dias contados. Personagens com histórias comoventes, mas também com pitadas de humor, fazem parte do roteiro, que possui um viés humanista de contar histórias.
A obra, que apesar de ser filmada no Brasil, de ter como protagonista um artista brasileiro e ter coprodução com o Brasil, concorre ao Oscar como filme britânico, mas isso é assunto para uma próxima conversa. Lixo Extraordinário cumpriu seu papel social, convidando seus espectadores a olharem para o lixo de uma maneira diferente, gerando reflexões sobre reciclagem, consumo consciente e inclusão social.
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