As trajetórias políticas de José Alencar e Tancredo Neves são muito diferentes, mas o empenho da mídia foi em criar um novo herói político no momento da morte de ambos.
Tancredo morreu antes de mostrar ao povo, de forma ampla, com a visibilidade do Palácio do Planalto, como era o seu estilo de governar. Virou herói pelo que prometia e não pelo que de fato fez.
José Alencar, ao contrário, expôs suas opiniões - em especial sobre os altos juros - atuou no Senado e no Planalto, e ainda escancarou a todos a longa e doída luta contra o câncer. A população brasileira, pelos olhos da mídia, acompanhou o político em cada cirurgia, as recuperações, as recaídas, o definhamento até a morte. Acompanhou com orgulho, muita torcida e muita reza. E é justamente a doença a parte que mais se sabe sobre Alencar. Nunca foi divulgado qualquer escândalo de que tenha participado, era conhecido como um político honesto e ético. Um homem que era pobre, de pouco estudo, conquistou um império empresarial e deu as mãos ao operário que enfim conseguiria ser presidente.
Pouco se sabe da atuação política de Alencar e muito se sabe sobre a trajetória do mito, assim como aconteceu com Tancredo. Milhares de brasileiros enfrentaram as longas filas para homenagear Alencar e exibir o orgulho que sentiam do político.
É positivo que a mídia mostre bons políticos e contribua para o otimismo, para a esperança, para a confiança em seus dirigentes. Mas eu bem que gostaria de ver uma homenagem a quem levanta ou levantou bandeiras importantes como a reforma política, a melhoria da educação e tantas outras que dizem respeito às nossas mazelas. Queria também um herói que ganhasse esse título por ser efetivamente atuante nas causas brasileiras.
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